segunda-feira, 24 de março de 2008

Mídia

Da mídia restou a massa
A que passa pelo corpo estendido e nada sente.
Não há pertence, ente, só ausência de sentimentos.

Da mídia restou o fato, ato disforme conforme descrevem.
Em no's restou o niilismo, apatismo, conformismo
e ouvidos moucos para os gritos de socorro saídos de no's.

Lucelia M

segunda-feira, 10 de março de 2008

Tiras

“Farei hoje tuas malas.
Nelas colocarei todas as minhas mentiras a respeito de como você
Tornar-se-ia alguém digno de mim.
Depois conversarei comigo sobre ser independente e forte.”

LM

Invasao de mim ll

Quanto a você?
Sua saudade invade sim...
Com dizeres,
Prazeres, espasmos,
Fotografias de emoções...
Estes, e tantos outros motivos,
São seus, unicamente seus.
Quisera pudesse misturá-los a outros nomes,
Outros feitos,
Mas, são tão inigualáveis!
Só me resta respeitar sua fome,
Seus gestos e seu nome barbarizando minha ordem.
Quanto a mim?...
Tenho visto meus esforços torturados,
Massacrados por você.

Luce'lia M

Minorar

Quando seu rosto calmamente encosta o meu,
Perco a noção do ríspido de mim.
Quanta suavidade há nesta sua pele .
Quanta saudade neste seu olhar amendoado.
Mesmo que eu finja,
Não acredite se eu disser que me és indiferente.
Jamais deve acreditar que não a amo,
Que não lhe chamo durante o sono, onde posso ser só de você.

Luce'lia M
“Cansei de esforçar-me para acreditar, nas migalhas que você dá
Preenchendo as desculpas que dou a meu próprio vazio.”
“ Despi meus olhos de sua presença. Meu ser ficou tão assustado
que pensei não vencer tantas paisagens.”

Tiras

“Queria falar de seu egoísmo, porém calei-me ante a palavra masoquismo.”

Luce'lia M

`As vezes

Para que saber o que houve?
Meus olhos ainda estão abertos
E lá fora o dia congela tudo,
Até meu parecer sobre este momento.
Sei que sou forte, pois ainda vivo
Na sociedade de tantos poetas mortos,
Morro às vezes, mas, e daí?
Lázaro, também, já foi um dia
Um morto de sorte!
Tenho visto tantas coisas,
Todas desalinhadas de mim.
Tenho sempre a impressão
De estar voltando
Para aprender o sumo das coisas
Que já descasquei e suguei.
Passo os dias esperando
A paciência retornar do além,
Jogada de lá, quem sabe
Pelo coração da egrégora, compadecida de nós
“Os sem lugar na bolinha da skol”.
Minha alma, às vezes, chora,
Mas meus olhos se recusam acompanhá-la,
Afinal quem ela pensa que é,
Pra tirar de mim
Esses momentos de saudades de um lugar
Que não me lembro como é,
Só imagino?
Eu não digo a minh’alma,
Mas às vezes, muito às vezes,
Me dou o luxo de chorar
Um luxo passageiro
Só pra que meu coração
Não se esqueça
Que eu ainda sei quem sou.
Os verbos são complicados,
Nem sempre se fazem carne
Para nos tirar da estranheza
De sentir-se lúcido.
Até acho que tudo pode ser uma grande brincadeira,
Daquelas que você fica pensando, depois,
Que podia ter rido mais da tal situação.
Ainda, se não bastasse, fizeram
Uma maneira de cobrar a entrada para a festa,
E, se você não pode ir, só fica sabendo
Às vezes, de algum detalhe mal contado,
Que um idiota qualquer resolve comentar.
Mas um idiota jamais fará jus
Aos nossos olhos curiosos e seletivos de águia
A caçar ou cassar.
Já fui buscar tão longe as justificativas
Para essa seqüência de desarmonias que observo.
Alguns dizem
Que os pobres herdarão a terra,
Deve ser por isso
Que estão “ferrando” com ela.
Outros, com mais democracia, dizem
Que vivemos várias vezes,
Portando tentam explicar as diferenças
De maneira a querer nos consolar
Através de algo que já tenhamos passado,
E daí, se não me lembro?
E, com isso, tentam dizer
Que um pouco da culpa deve ser nossa.
Enfim,
Estar consciente, às vezes
Pega a gente de surpresa,
Querendo correr pra um lugar
Onde a passagem tem o valor de coisas
Que não temos acesso, só convulsões.
Às vezes ( uma dezena de vezes por dia),
Me pego pensando
Onde esta a abertura ( a fenda )?
Os alquimistas dizem que sabem,
Acho que não,
Afinal, eles ainda estão por aí...
“Tem dias que a gente sente
Como quem partiu ou morreu...
Mas eis que chega a roda viva”
E carrega tudo...
Até os mais avisados...

Autoria: Luce'lia Martins-2003

Estar

Isso, de nós,
É algo muito abstrato,
Pois já a fiz sozinha tantas vezes.
Até morei em outros lugares e você não notou.
Mas sei que sempre que estou a seu lado,
Você sabe que algo diferente e mágico vai acontecer.
Sou assim,
Não sei morar de fato,
É que meu corpo, `as vezes,
Não acompanha meu coração.
Azar o dele!
Autoria: Luce'lia Martins-2003

Terapia

Paguei pra alguém te tirar de mim.
Acho que foi caro!
Agora tudo que me resta
É um pensar frio de você,
Já não sinto meus punhos esquentarem,
Nem meus olhos ficarem perdidos...
Só sinto minha consciência gélida,
Acreditando que aquilo não foi amor.
Paguei pra alguém me deixar hipócrita,
Ou quem sabe, esclerosado.

Autoria: Luce'lia Martins-2003

Dezembros

Casar-se, moldar-se e parir
Esquecer de si
Esquecer da arte, da parte crítica e política do sim
Ela paria e se diminuía ... cada dia mais;
Em cada filho seu tempo de se expressar era sorvido, substituído,
Corrompido por esta função, cravada na alma com conceitos de outrem.
Estupravam sua mente, sua arte eloqüente,
Negada, estagnada...,morta e cética...
Se ao menos a deixassem pintar, criar (além de filhos), cantar... compor-se.
Seus olhos foram ficando cinza! E no seu sétimo filho sua esperança era menor
Que sua capacidade de educar, proteger...amar
Já não era tão vaidosa em seus trinta quilos extras;
Sandálias havaianas nos pés, calcanhares rachados e cansados de carregar os outros.
E agora! Como poderá ser ela, mãe? Ser algo.. coisa qualquer... mulher!?
O quê será de nós, seus paridos, seus famintos de presença? O quê será?
Vez ou outra aquela nuvem pesada saía de seus olhos;
Então ela sorvia um pouco de decência, oxigênio, ego do charque.
Aí ela cantava... sempre canções antigas (do tempo em que era viva),
Depois sorria e vinha buscar seus rebentos.
Como era triste ter consciência de sua morte, de sua sorte, da arte esquecida;
De seus anseios sugados dos seios pelos seus filhos... Seios murchos,
Tão murchos quanto a tentativa que fez de ser feliz!

Autoria: Luce'lia Martins -2004

Tecendo

Já lhe disse tantas coisas... mentiras, verdades
Loucuras. Já lhe perguntei tantas respostas...
E das propostas que lhe fiz, tantas valeram
Só por tê-las formulado com prazer.
Fiz com que sonhasse, só não consegui acordá-la,
Pois eu mesma não despertei.
Impeço o impulso com o repulso de uma vontade
Quase Instintiva.
Às vezes pergunto se sinto-me viva, sufocando o
Que há em mim.
Questiono porque fujo, ou porque não.
A verdade é que sua saudade é parecida com maldade,
E que sua presença corta, mais cicatriza a todo momento,
Só as vezes infecciona... e este antibiótico idiótico.
Parece mesmo homeopático (talvez funcione, mas
demora como um cio, desses que deixa tudo por um
fio da teia de nossa aranha)
Então tudo bem!? Viver é preciso.
Tecer é permitido, mas só para quem sabe...
Esquecer faz parte, pra quem tem esclerose
Múltipla;
Múltipla amnésia, múltipla teimosia
Múltipla falta de falta, múltipla apatia.
E tudo passa, pra quem não tem o fato, olfato, tato
E olhos verdes de ver.
Há tempo, tempo melhor remédio, pra quem não
Tem tédio e impaciência.
Enfim tudo se escreve, para quem sabe um dia... Amanheça!
Autoria: Luce'lia Martins

Transpor

A poesia escorre, molha o papel com sua tinta lilás.
Deixo à espreita o que de sentimento expresso, puro e cru
feito linho escasso, naturalmente como Picasso...
Passo horas a pensar o que de mim escondo.
Onde moro realmente? Na exaustiva realidade, ou no paradisíaco
Mar do inconsciente?
Jaz os planos, quiçá fosse a vida um resumo consumido do
Que foi lido e lindo, ou a sensação do cheiro da madrugada
E sua brisa , a penetrar narinas e corpos soltos, buscando amarras,
Acertos, oásis e febris emoções....
Aautoria: Luce'lia Martins

Mitose

Já fui parte de tantos,
Tantas gentes,
Tantos monstros,
Tantas partes do louco
Que havia no outro...
Procuro o meu,
Separado do seu,
E é tão frenética
A angústia de encontrar comigo,
Que, às vezes, corro,
Passo por mim e
Não me vejo.
Que ironia!
Já não me reconheço
No meio de tantos
Tão perdidos quanto eu...
Autiria: Luce'lia Martins

Meiose

Sinto-me um meio...
Núcleo confuso e disperso...
Não quero ser você,
Já ser algo se faz preciso,
Mesmo que não queira,
Se constrói a fórmula.
Fazer-se presente,
Às vezes,
É tão ingrato
Quanto a tua ausência de sentimento...
Passo e repasso as poesias,
Sem que com isto consiga responder
As tantas perguntas que fiz,
Como por exemplo:
Quem eu penso que és,
Para preencher em mim
O restante que falta
Do maravilhoso que fiz?

07/2000

Autoria Luce'lia Martins