sexta-feira, 25 de abril de 2008

CRÔNICAS DE CONSUMIDOR

Eu lembro que quando criança, minha mãe torrava café no quintal de casa.
Nós, os filhos, ficávamos impressionados com o trabalho que dava para fazer o tal do café de toda manhã.
Primeiro ela ajeitava uns tijolos fazendo uma paredinha em “L”, com altura aproximada de 50 cm do chão, depois nos fazia procurar gravetos e pedaços de pau para queimar.
Era uma trabalheira danada, não vou contar da parte em que secávamos o café em grão para não prolongar muito esta história.
Depois de tudo pronto vinha ela com o torrador, aquela coisa esquisita, parecia uma bola preta enfaixada. O cabo, meio estranho, tinha uma parte fixa e outra era para movimentar em sentido horário, fazendo os grãos girarem e se misturarem lá dentro daquele apetrecho. Depois de ela suar um monte e abrir centenas de vezes aquela bola (eu esqueci de dizer que a tal bola tinha uma abertura lateral em forma de círculo que servia para colocar os grãos lá dentro e para espiar) para ver o ponto do café. Ela gostava de café forte, por isso deixava o grão ficar mais escuro.
Bem, toda esta história foi pra tentar explicar que enquanto o torrador girava, ia saindo fumaça branca da bola preta, e o cheiro era tão maravilhoso que nós não conseguíamos sair de perto, mesmo com os berros que ela dava para nos afastarmos do fogo.
Então, isso tudo só serve para lembrar que a infância fica cada vez mais longe, e que os cafés que tenho comprado também estão longe de serem puros e saborosos como aquele.
Pela manhã a primeira coisa que faço, depois de outras é claro, é fazer o café nosso de cada dia, ou poderia dizer a primeira decepção do dia. Posso fazer de trezentas maneiras diferentes, com “trocentas” marcas, ele fica sem sabor. Putz, que droga!!!!
Abri uma caixa estes dias que estava escrito “Tradicional” como chamada de marketing, acho que se referiam a tradição destas empresas em fazer café sem gosto e cheiro, só pode!!! Também penso que estes fabricantes só entendem de tradição em exportação dos cafés saborosos e cheirosos. Exportam junto nossa dignidade e nossa memória de infância. Que chato! Por esse motivo gostaria de incentivar os produtores a continuarem com a venda em feiras do nosso maravilhoso café da infância, aproveito para deixar a eles meu muito obrigado por isso. Valeu!!!

LM

Curitiba, 04/04/2008

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